Saiba quem era Miguel Uribe, pré-candidato assassinado na Colômbia

A política colombiana amanheceu de luto nesta segunda-feira, 11 de agosto. Miguel Uribe Turbay, senador e pré-candidato à presidência do país, não resistiu após mais de dois meses internado. Ele tinha apenas 39 anos e morreu em Bogotá, onde estava hospitalizado desde que foi baleado por um adolescente durante um evento de campanha, no coração da capital. O ataque, que aconteceu no fim de maio, chocou não só os colombianos, mas também políticos e líderes de outros países da América Latina.

Uribe, que integrava o partido de oposição Centro Democrático — fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe —, não tinha parentesco com o ex-mandatário, apesar do sobrenome que sempre gerava confusão nas manchetes. Advogado de formação, ele construiu a carreira política com uma mistura de juventude e preparo acadêmico.

Formado em Direito pela Universidade de los Andes, um dos centros acadêmicos mais prestigiados da Colômbia, Miguel ainda ampliou o currículo com dois mestrados: um em Políticas Públicas na mesma universidade, e outro em Administração Pública na Escola de Governo de Harvard, nos Estados Unidos. Entre bastidores, era visto como um nome promissor para renovar a cena política do país, que vive tempos turbulentos.

Mas a trajetória dele era marcada também por uma história familiar carregada de tragédias. Miguel era neto de Julio César Turbay Ayala, que presidiu a Colômbia entre 1978 e 1982. Mais do que isso, era filho de Diana Turbay, uma das jornalistas mais respeitadas de sua geração, assassinada pelo Cartel de Medellín em 1991.

Diana, que na época comandava o telejornal Criptón, foi sequestrada em 30 de agosto de 1990. Acreditando que iria entrevistar membros da guerrilha ELN (Exército de Libertação Nacional), ela seguiu para uma área montanhosa no leste do departamento de Antioquia, acompanhada por outros profissionais de imprensa. O que parecia ser uma pauta exclusiva, na verdade, era uma cilada.

O plano havia sido montado por Los Extraditables — um grupo formado por narcotraficantes leais a Pablo Escobar, cuja missão era evitar a extradição de criminosos colombianos para os Estados Unidos. No sequestro, toda a equipe de reportagem foi levada para uma das propriedades do cartel. Eles passaram quase cinco meses em cativeiro, sob condições duras e constantes negociações, até que Diana acabou morta durante uma operação de resgate malsucedida.

Esse episódio não apenas marcou profundamente a vida de Miguel, como moldou sua visão sobre segurança pública e combate ao crime organizado. Em discursos e entrevistas, ele frequentemente mencionava a necessidade de fortalecer instituições e criar políticas eficazes para enfrentar grupos armados e cartéis, que ainda hoje têm influência em várias regiões da Colômbia.

O atentado que tirou sua vida, segundo autoridades locais, foi praticado por um adolescente de 17 anos, que teria recebido pagamento de grupos criminosos para atacar o senador durante um comício no bairro de Teusaquillo. O caso ainda está sendo investigado, e o jovem permanece sob custódia.

A morte de Uribe acontece num momento sensível da política colombiana. As eleições presidenciais se aproximam e, para muitos, ele representava uma alternativa capaz de unir setores mais moderados do espectro político. Em Bogotá, bandeiras foram colocadas a meio mastro, e nas redes sociais, colegas de Congresso e cidadãos comuns prestaram homenagens.

Do lado pessoal, amigos relatam que, apesar da vida intensa na política, Miguel era próximo da família e tinha um humor sarcástico que aparecia nas conversas informais. Ainda que marcado pela tragédia desde cedo, manteve até o fim uma postura de otimismo — algo que agora muitos relembram com pesar.

A Colômbia se despede de mais um de seus líderes, num capítulo triste que mistura a velha e a nova história do país: o peso dos cartéis, a violência política e a eterna luta pela democracia.